O formalismo do costume (cenas do velório do neto do patriarca Ferreira) e a linguagem dos patriarcas;
A ausência completa de outro poder senão a família (tensão entre a extensão do mundo e a solidão dos homens): o mundo é seco –sem mar- e nele sobraram apenas as almas –desesperança;
Os mortos da família Breves são observados a partir da vela –fogo ritualístico, evocação;
A noção de tempo - a única-, pois mede a trégua, é dada pelas fases da lua;
Apenas após “cumprida a obrigação” é que a mãe pode lavar o sangue do filho morto, mas o menino” observa que mancha de sangue não sai...ainda que a mãe pense que sim;
O menino está fora da linha taliônica desde o início, não apenas por ser o mais novo, mas por todos os demais sinais que o denotam, seja o fato de não possuir nome (o que indica que não deve ter sobrenome), mas pelo fato de ser o único a enfrentar o pai e o meio (o menino é o primeiro a mandar Tonho ir embora). A mãe o o pai demonstram raiva quanto ao livro do “menino” e esse, por sua vez, as vezes se lembra e outras se esquece da história;
A cidade mostra uma perspectiva de ruptura e escape, o circo é a representação disso;
A moenda mói tudo, inclusive os homens. Quem primeiro cede são os bois, mas o “menino” diz: nós é que nem os bois, toda, roda e não sai do lugar...".
O sangue de um tem a mesma valia de outro e essa é uma regra tradicional como diz o patriarca dos Ferreira (“meu pai me ensinou, e o pai dele a ele, e assim sucessivamente). Quem desobedece será punido nesta vida ou em outra;
Quem verifica o sangue amarelar e o atesta é sempre uma mulher (pitonisa);
O menino assume conscientemente o lugar do irmão sabendo que essa é a única forma de libertá-lo plenamente, ele que acabara de ser libertado pelo amor da mulher o será agora pelo do irmão.
A "DOMESTICACAO" DA VIOLENCIA: uma faca de dois gumes
Vivemos nos hábitos e, por fazermos da vida um hábito, nos tornamos fantoches da compulsão à repetição. A vida presa ao hábito é, por certo, eficiente. Mas de uma eficácia das moendas, por onde só entra cana e sai bagaço. Criada para lidar com o mesmo, a roda do hábito, diante do diverso, emperra, se despedaça e fere de morte os que a põem em marcha. "A inclinação da humanidade para dar valor a seus pecados não se deve à paixão, mas ao hábito", disse santo Agostinho. Hannah Arendt deu a essa máxima religiosa a mais forte expressão leiga: o Mal é banal. Banalidade, porém, não é apenas mesquinhez em pele de obediência. O Mal é banal, principalmente, por fazer da ação humana uma sequência calculável de eventos da qual a espontaneidade é expulsa. No filme, a morte em cascata não vem de impulsos assassinos imprevisíveis e descontrolados; vem do pacto com os mortos, da incansável obrigação imposta aos vivos de pagarem uma dívida cuja origem ignoram, mas que devem considerar como deles porque "assim manda o hábito“ (Jurandir Freire).
Tem um livro muito interessante, obviamente da minha área, "Processo Penal Eficiente & Ética da Vingança: em busca de uma criminologia da não violência". São dois autores Alexandre da Rosa e Thiago Carvalho. O Carvalho escreve a segunda parte, onde ele trata da ética da vingança com base no "Abril despedaçado". Vale a pena. Afinal, "em terra cego, quem tem um olho todo mundo acha que é doido".
ResponderExcluirAbraço