Com agradecimentos ao Prof. Dr. José Ribas Vieira
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DE CAMBRIDGE (EUA)
No topo do ranking de universidades da Times Higher Education, Harvard não
é poupada de polêmicas. E duas delas, que lidam essencialmente com a forma
como a universidade produz, estão motivando revisões em suas políticas
internas.
A primeira é a questão do conflito de interesses, exposta mais
recentemente no oscarizado documentário "Trabalho Interno". O filme
questiona a porta giratória entre a academia e os grandes bancos e
corporações.
O argumento é o de que os interesses das instituições financeiras
transpiram para as salas de aula por meio de professores que estão ou
estiveram em suas folhas de pagamento -como o ex-reitor Larry Summers, que
volta este ano a Harvard.
"A universidade está hoje muito mais envolvida no mundo do que há 15
anos", disse a reitora Drew Faust à Folha. "Isso é bom, pois traz
experiências do mundo real, torna a pesquisa mais conectada. Mas levanta
questões que a universidade não havia enfrentado antes."
O resultado foi a adoção, no ano passado, de uma inédita política de
conflito de interesses redigida por uma comissão encabeçada pelo
vice-pró-reitor Dabid Korn.
A meta agora é que cada uma das 15 escolas da universidade decida sobre
políticas específicas. A mais avançada, afirma Faust, é a da escola de
medicina (muita coisa descoberta ali é patenteada e comercializada).
A queda do reitor da respeitada London School of Economics, por ter
aceitado doações do ditador líbio Muammar Gaddafi, ainda que por canais
legais, também abriu uma discussão sobre quem financia as pesquisas nessas
instituições. Em Harvard, no ano passado, por exemplo, 7% de seu orçamento
veio de doações de empresas e indivíduos.
A universidade está aumentando também o escrutínio sobre sua produção após
vir à tona, no ano passado, que o conhecido biólogo evolucionista Marc
Hauser, professor da instituição, mentia na conclusão de um de seus
estudos. Há uma investigação em curso e o pesquisador está afastado.
Na revisão de parâmetros, os estudantes são parte importante. Neste
semestre, professores da escola de governo passaram a enfatizar que
trabalhos contendo plágio -e referências a outros trabalhos sem a devida
citação - serão anulados. "Parte do que temos feito para resguardar a
integridade acadêmica é educar os estudantes", diz a reitora.
PROFESSORES
Harvard também estabelece critérios rigorosos para contratar seus
professores. Primeiro a universidade trabalha com uma ampla base de nomes,
cuja produção é meticulosamente avaliada pelo atual corpo docente.
Os selecionados passarão por mais três fases de escrutínio -colegas do
mesmo campo, a diretoria da escola em questão e a reitoria. "E depois
temos uma comissão ad-hoc, com gente de fora da universidade, para
examinar as credenciais do indivíduo."
O processo busca os melhores. E os melhores custam caro. A universidade
pagou US$ 1 bilhão a seus 2.100 professores em 2009.
A reitora nega rumores de que haja salários de US$ 1 milhão ao ano. O
atrativo em Harvard, ela diz, é o ambiente e a oportunidade intelectual,
com colegas que desafiam o acadêmico a melhorar sempre, além de
instrumentos para pesquisa, verba de viagem e boas instalações.
E os salários? "Bom, estamos no mercado."
(LUCIANA COELHO)
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>
> ENTREVISTA DREW FAUST
>
> A ordem é globalizar
>
> A universidade Harvard , a melhor do mundo em vários rankings
> internacionais, decidiu se lançar em busca de tesouros -estudantes,
> professores e, sim, dinheiro
>
> Fotos Stephanie Mitchell/Harvard Staff Photographer
>
> Drew Faust conversa com estudantes brasileiros e chilenos
>
> LUCIANA COELHO
> EM CAMBRIDGE (EUA)
> GILBERTO DIMENSTEIN
> COLUNISTA DA FOLHA, EM CAMBRIDGE (EUA)
>
> Globalização, crise, diversificação. As palavras que regem a expansão
> internacional de tantas empresas americanas têm levado a melhor
> universidade do mundo, Harvard, a se lançar em uma busca por recursos
> humanos e financeiros no exterior.
> Desde que assumiu a reitoria, em 2007, Drew Faust visitou China, Japão,
> África do Sul e Botsuana, além de Canadá e países europeus. Na semana que
> vem, ela visita o Brasil e, em seguida, o Chile.
> A meta sempre é estreitar o laço com os países visitados e recrutar
> alunos, professores e fundos. Em 2010, 1 em cada 5 alunos de Harvard veio
> de fora dos EUA.
> Faust também impulsionou a presença internacional da universidade
> inaugurando, em 2008, escritórios na Índia e na China. Antes, a
> instituição fincou o pé no Brasil, na Argentina, no Chile, na Itália, na
> França, na Grécia e no Japão.
> A reitora recebeu a Folha na semana passada em seu gabinete, em um dos
> prédios mais modestos do campus da universidade em Cambridge,
> Massachusetts, para explicar como atrai os alunos que fazem Harvard ser o
> que é.
> Falou também de expansão, crise e diversificação -graças à recente reforma
> do programa de bolsas, a instituição, fundada em 1636, está deixando de
> ter cara de "elite branca" para acolher estudantes brilhantes das mais
> diversas origens. Afinal, diz ela, muito do aprendizado por aqui se dá na
> convivência entre as diferenças.
>
>
>
>
>
> FOLHA - O que a sra. espera de sua viagem ao Brasil?
> Drew Faust - Estou animada em ir. É um lugar vibrante, que está crescendo
> e se torna cada vez mais importante no mundo.
>
> Há hoje mais gente interessada em estudar o Brasil?
> Há. A melhor representação disso é a questão dos BRICs, quando o Brasil
> passou a ser visto como uma das principais forças emergentes na economia
> internacional.
>
> Ainda assim não há tantos estudantes e professores brasileiros ou
> especialistas em Brasil aqui em Harvard.
> Recebemos uma doação generosa de um brasileiro, o Jorge Paulo Lemann
> [milionário cujo fundo já foi dono da AmBev e acaba de comprar o Burger
> King], que apoiou nossa expansão em estudos brasileiros. Avançamos alguns
> passos, esperamos continuar.
> O escritório no Brasil está indo muito bem. Há bastante interesse por
> parte de nossos professores e estudantes em fazer conexões e tocar
> programas [de extensão] lá.
> Além disso, a [Harvard] Business School está interessada em fazer estudos
> de casos do Brasil. Estamos bem otimistas com as nossas conexões com o
> país, e minha viagem é para reforçar isso.
>
> Harvard está se expandindo. O que estão fazendo para atrair mais
> estrangeiros, estudantes e professores?
> Nós nos tornamos uma universidade muito mais global nos últimos anos.
> Hoje, 20% do total de nossos alunos são estrangeiros.
> Também passamos a dar ênfase, na graduação, à importância de se ter uma
> experiência internacional. É uma mudança cultural para nossos alunos, que
> costumavam ser desestimulados a passar tempo fora de Cambridge.
> Oferecemos, inclusive, apoio financeiro, caso não tenham meios de arcar
> com isso -1/4 dos estudantes teve alguma experiência internacional no ano
> passado.
> Se olharmos a forma como nossos professores pesquisam, ela também mudou.
> Temos uma proliferação de professores viajando para trabalhar e buscando
> os serviços que nosso departamento internacional fornece.
> Aumentamos o número de escritórios internacionais nos últimos anos e temos
> um novo modelo em Xangai, que é um espaço com salas de aula e que oferece
> oportunidades para atividades.
>
> Qual a relação com o governo federal e as instituições privadas no
> financiamento à pesquisa científica?
> Nós recebemos uma proporção majoritária no nosso financiamento à pesquisa
> do governo federal. Está em cerca de 21% de nosso orçamento hoje [US$ 3,7
> bilhões].
> Nosso orçamento também conta com uma contribuição significativa de nosso
> fundo de doações ["endownment"]. Hoje, cerca de 35% de nosso orçamento
> operacional vêm desse fundo. E há ainda as anuidades.
>
> O fundo sofreu com a crise econômica?
> [A crise] nos obrigou a ter um olhar mais duro com o que estávamos
> fazendo, estabelecer prioridades e decidir sobre o que poderíamos passar
> sem. O fundo caiu 27%. Foi um momento de autoexame intenso na
> universidade, e acabamos fazendo algumas mudanças.
>
> Mas pelos números, o investimento em pesquisa não caiu. Essa é a
> prioridade?
> Sim, ao lado da ajuda financeira aos estudantes.
>
> Como Harvard recruta estudantes?
> Tentamos mandar a mensagem que queremos ter aqui gente talentosa
> independentemente da situação financeira e localização geográfica. Fazemos
> isso por meio de nosso escritório de admissões, cuja equipe viaja pelo
> país e pelo mundo todo.
> E procuramos reforçar isso com um pacote de ajuda financeira, que faz a
> universidade parecer acessível. Nos últimos anos, criamos uma série de
> iniciativas para famílias de baixa renda. Com essa mensagem, conseguimos
> 35 mil inscrições neste ano.
>
> Quão importante é ter os melhores aqui? E quanto os estudantes aprendem
> uns com os outros?
> Não tenho como dar um percentual, mas este é um ambiente muito mais
> diverso do que qualquer outro em que os estudantes já tenham vivido. São
> pessoas diferentes deles, às vezes de outras partes do mundo, com outras
> ideias, outros talentos, e isso é muito enriquecedor.
>
> Mesmo com tanta tecnologia, não há como substituir a convivência...
> A tecnologia mudou muita coisa no ensino. A sala de aula deixou de ser um
> espaço apenas para transmitir informação e passou a ser para debatê-la.
> Mas achamos que esse tipo de aprendizado, pela convivência com gente
> diferente, é essencial. Temos até o sistema de alojamento, no qual os
> graduandos aprendem a viver juntos, a dividir o banheiro, o refeitório, os
> projetos. Aprender vai além do computador.
>
>
Sandro, sei que não tem a ver diretamente com o assunto da postagem, mas você poderia postar dizendo como fica o sistema de graduação e pós em direito na UE após a Declaração de Bolonha?
ResponderExcluirAh, mais nada a ver com a postagem ainda: Veja esta animação:
ResponderExcluirhttp://www.chongas.com.br/2011/02/curta-animado-the-saga-of-biorn/
Animação curta e engraçada sobre a saga de um velho guerreiro viking em busca de uma morte honrada em batalha para poder, enfim, adentrar o Valhalla.
Tenho certeza de que vai gostar.
Caríssimo,
ResponderExcluirVou ver daqui há pouco a animação sobre o Viking e comentarei, mas a sua primeira mensagem, na verdade, tem tudo a ver com a postagem, porque o chamado "processo de Bolonha" que se inicia com a dita Declaração firmada pelos Ministros de Educação da UE e depois se estende até para a África (hj são 46 países no total), muda significativamente o modelo de universidade fundado por Humbolt. O conflito referido na postagem é outro, mas igualmente força a uma mudança de modelo na atuação das universidades e tanto aquele conflito como este, o do processo de Bolonha, são propositalmente dirigidos para aumentar a "eficiência" e "competitividade" das universidades em nível global. A declaração refere-se expressamente a esses objetivos. Na prática, dividiu-se a trajetória no ensino superior em 3 ciclos, sendo o primeiro generalista e cujos cursos e objetivos são estabelecidos pelo Tunning project, outro de especialização e o terceiro com mestrado e doutorado. Cada ciclo tem parâmetros de comparatividade estabelecidos em comum pelos signatários para permitir a mobilidade dos alunos com facilidade no aproveitamento e validação de estudos. Assim, um aluno pode terminar seu ciclo no país de origem ou migrar para conclui-lo em outro. Fazer o primeiro ciclo generalista em um e especializar-se em outro e por aí vai. Nisso se realiza o objetivo não apenas da mobilidade, mas da flexibilidade entre as áreas. O processo ainda tem muitos problemas, mas está avançando. Recomendo a leitura de um excelente artigo de 2007 publicado no Scielo que faz uma avaliação abrangente do processo.(http://www.scielo.br/pdf/aval/v13n1/a02v13n1.pdf)
Ah, complementando, vale a pena consultar o sítio do Tunning Project, o qual foi concebido como uma estratégia para implementação da harmonização dos ciclos através de identificação de objetivos e habilidades comuns para cada área. Vai o endereço:
ResponderExcluirhttp://tuning.unideusto.org/tuningeu/
Até mais,
Mais uma complementação, pois ao me referir a Humbolt (o Alexander Humbolt mesmo, que andou aqui pela amazônia junto com a corte austríaca que acompanhou a Imperatriz Leopoldina), preciso assinalar que há um livro no Brasil publicado pela UERJ em 2003, ainda disponível, que traduziu um estudo do então Reitor (não sei se ainda o é) da Universidade de Stanford, Prof.
ResponderExcluirGerhard Casper, chamado "Um mundo sem universidades?" e que fala da crise - ou fim- do modelo da universidade fortemente local e baseada na alta pesquisa. No apêndice do livro há o texto do Humbolt traduzido a respeito, lá do sec. XIX, para compararmos os distintos discursos e objetivos.
Ciao,
Chegou a ver a animação do Viking? O que achou?
ResponderExcluirVi sim, André, e achei-a criativa e divertidíssima. Adoro charges e, no caso, dos vikings sou especialmente inclinado a achá-las atraentes em razão da minha paixão pelas tirinhas do Hagar, lembras?
ResponderExcluirEspero que as notas sobre o processo de Bolonha tenham te servido.
Aguardo teu próximo texto no "Filósofo grego", tá demorando...
Abs,