A respeito de uma conversa que começou com o fascinante personagem Jean Baptiste Grenouille, do romance "O perfume", de Patrick Süskind, para depois perder-se em uma curta percepção sobre os sentidos.
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As histórias dos divórcios estão cheias de amores à primeira vista. Isso porque é bem possível que não se trate de uma primeira vista, ou mesmo de repetidas vistas o amar. Cá comigo, estou convencido que não de trata de ver, mas de entender e acolher, duas ações que se encontram longe do abrigo das vistas, sejam elas quantas forem...
Não se nega o quanto pode atrair uma bela imagem, ou mesmo uma imagem não tão garbosa, contanto que pareça bela, pois para os efeitos da visão, o que parece é. Não se nega todo o resto - que não é pouco - que se ajunta ao primeiro sentido, e se o denomino assim, o faço pelo hábito centenário de resignar-me ao império da visão. Entretanto, a maciez do tato, as ondas melífluas que dominam o olfato, o gosto indescritível do beijo e o gozo dos lábios e dos gostos que assomam à boca, bem como os sons que tornam tudo um conjunto presente e atual, mesmo quando se tornam memória, serão sempre a memória daquele tempo, compõe uma obra infinitamente mais rica do que somente a visão seria capaz. Também isso não se nega. Uma imagem sem seu todo, sem os sentidos ainda que parcialmente articulados está destinada ao esquecimento. Daí acreditar que “à primeira vista” seja uma antonomásia, pois creio que se deveria entender “à primeira vista dos sentidos”... mas a esse ponto já estou por minha própria conta.
Ou talvez não se trate mais de sentimentos, mas de sensações que são nada mais que sentimentos sintéticos. As pessoas não sabem que é preciso contato superficial para chegar à profundidade, digo. Há um ultraromantismo que falsifica a própria certeza do sentir. Ignoram a atenção que deveria ser dada à ordem da leitura dos cinco sentidos humanos.
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